domingo, 23 de setembro de 2012

A música eletrônica está em crise?

FONTE:  Jota Wagner Colors Sound System / Lunatic Jazz Records


2011 – Uma amarga retrospectiva musical

2011 foi (mais) um ano realmente esquisito para quem trabalha com música. Ninguem descobriu ainda uma forma de se manter independente e ainda assim comprar comida com o dinheiro da música que você compões. O mundo se tornou pop. Ninguem quer saber de música que não contenha um refrão grudendo e fácil, algo como ‘she loves you yeah yeah yeah’ ou ’la vem o negão cheio de paixão’.

Quando eu digo ´ninguem´ é melhor ser mais específico (ou catastrófico): NINGUEM MESMO!! ninguem do público que está na pista de dança ou em casa, nenhum dono ou programador de club e até mesmo nenhum crítico ou jornalista musical, por mais ‘moderno’ que seja. Hoje em dia, só há espaço para mega hits.

Quem vive em São Paulo sabe o efeito horripilante que a moda ‘foda-se eu gosto mesmo é de hit pop grudento pra cantar junto’ causou na cena festeira da cidade que já foi o epicentro cultural da américa latina. Da Augusta à Barra Funda, do Itaim à Lapa, São Paulo virou uma grande “festa de fim de ano da firma”, uma grande festa trash, uma grande ‘festa dos anos 70,80,90′ sem fim e sem sal.

A cidade continua com bares e clubes ótimos, com decorações e luzes doidas e locações fenomenais (nos quatro últimos clubes abertos – ou reabertos – na cidade, a decoração e a iluminação foram o assunto dos press releases). Mas quando o assunto é música o assunto cai num abismo que eu nunca havia visto. em 2011 São Paulo atirou à queima roupa em todos os ícones da sua história de noite. São Paulo implodiu tudo o que construímos nos anos 90 e 00. Os heróis do Cazuza morreram de overdose. Os meus foram simplesmente esquecidos e ignorados.

A velha guarda da qual pertenço geralmente vive dos restos de festas do passado. Há vários projetos aí – como o meu – comemorando seus 10, 11, 15 anos e que não passam de uma aura quase esquecida pelo público do que foi nas décadas passadas. Preste anteção. Eu estou falando de ‘festas’, porque quando o assunto é música a coisa ficou simplesmente vergonhosa.

Os DJs que não fazem ou não tem uma marca de festa por trás são simplesmente ignorados por São Paulo, mesmo se atualizando musicalmente como qualquer outro astro internacional. Os poucos projetos dedicados à música de pista alternativa da cidade cospem na história paulistana e gastam fortunas com line ups internacionais. Sim. Nada do que fizemos adiantou, São Paulo ainda vive de “DJ gringo”.

Me entristece admitir que ao contrário do Rio de Janeiro ou de Porto Alegre, São Paulo continua sendo a mesma cidade paga pau de outros tempos. A identidade cultural de São Paulo é Maroon 5 e David Guetta. Continuamos trocando pinga por ouro.

Nossos jornalistas continuam assinando rss de blogs alemães em vez de botar o pé na rua. Nossos donos de clube continuam botando a culpa no público enquanto contratam festivais de mash ups Nirvana´s Smells Like Teen Spirit x Metronomy via Ableton Live, e nossos poucos produtores de festivais e noites preferem se derreter de tesão enquanto jantam com um DJ europeu que gastaram fortunas para trazer a São Paulo.

Os cachês para DJs paulistanos são ridículos. Mesmo em lugares onde uma cerveja custa 10 / 15 reais…

Mas se o DJ não tras público, como mereceria um cachê maior? E o público gosta de quem? O público gosta do que?

Esta é uma realidade da metrópole que tem espalhados por seus bairros deuses do drum´n´bass, do techno e da house. Que tem lendas vivas e ativas do rock, que tem produtores e compositores que são amados e respeitados por – vejam só – europeus, americanos e japoneses.

Pessoalmente falando, estou plenamente feliz com minha carreira, graças à produção e às músicas lançadas. Me sinto feliz quando vejo gente que eu sempre admirei tocar minha música. É por isso que componho.

No entanto, estou de saco cheio, cansado de ser elogiado por promoter, de ter ‘homenagens prestadas’ por dono de clube toda vez que encontro com eles na noite – e simplesmente ser ignorado de seus line ups.

Estou cansado de cruzar com amigos, colegas ou gente que não conheço (ou não me lembro) na noite ou no pé da cabine e ouvir como eles “amam house music”, como “amam a Colors” ou pior – muito pior – como “São Paulo está uma bosta”… e ter a certeza de que esta pessoa não vai procurar saber onde você toca novamente, não vai ouvir seu podcast, não vai transformar este amor em atitude. Acontece comigo e acontece com tantos outros.

2012 está aí. Faremos algumas de nossas festinhas, tocaremos em alguns clubs da cidade. Não puxaremos saco de dono de clube, não encheremos a bola de promoter-dj, não faremos ‘presença de internet’.

Tentaremos apenas escrever a melhor música possível, tocar a melhor música possível, nos divertir da forma mais selvagem possível, respeitar e promover os artistas (velhos e novos) cuja música amamos.


São Paulo: para mim em 2011 você foi ridícula.
Resto do Post

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